Música

A produção musical em Pernambuco, fora dos padrões vigentes, estourou na década de 70: LSE (Laboratório de Sons Estranhos), Quinteto Violado, Aratanha Azul, Ave Sangria etc.

Chegamos a ter um festival patrocinado pela Globo, realizado no Teatro do Parque, revelando alguns nomes.

É bom lembrar, que até o começo da década de 70, as bandas de bailes (e fiz parte de uma, Os Alfas), convertiam todas as músicas para uma forma instrumental, já que os sistemas de som da época, eram muito precários, porque não dizer, pobres de tudo.

O sistema de som completo de uma banda carregava num Aero Willys, mais os 4 componentes! Hoje precisa de carreta, só para os instrumentos (luz e som).

Uma banda de baile se destacava única e original: The Silver Jets, cujo crooner era... Reginaldo Rossi! Alguns componentes do grupo criaram, anos depois, o Quinteto Violado, dando origem a seguidores  como Concerto Viola, Roda Sonora, Som da Terra etc.

Foi o surgimento de grandes grupos musicais:

  • Phetus (Zé da Flauta, Lailson e Paulo Rafael
  • Ave Sangria (Israel Semente, Almir Oliveira, Agrício Noya, Marco Polo, Ivinho, Paulo Rafafel
  • Lula Côrtes
  • Marconi Notaro
  • Alceu Valença

Antes do Ave Sangria, quase o mesmo grupo formara o Tamarineira Village e o Batalha Cerrada.

Em 1975 um divisor de água, que juntou quase toda essa galera (Phetus, Tamarineira Village, Lula Côrtez, Flaviola, Luiz Gonzaga, Paulo Bruscky e outros), num show antológico no Teatro Santa Isabel, o Parto de Música Livre do Nordeste (criação de Don Antonio, Rodolfo Aureliano e Eurico Bitu).

MÚSICA DOS ANOS 70 (Por Zé da Flauta)

Hoje em dia é uma maravilha. Lasca mesmo era fazer música pop em Pernambuco, nos anos 70. Vocês não imaginam a loucura que era.

Na cidade toda só existia um equipamento de som para todo mundo. Jamais podia haver dois shows no mesmo dia, a não ser que fosse no mesmo lugar. O P.A. era tão grande que cabia dentro de uma kombi e às vezes só chegava em cima da hora, acabando com nossos nervos.

Equipamento pra ensaiar também era um drama arretado. A gente tinha que alugar ou pedir emprestado aos conjuntos de baile. Como não existiam estúdios apropriados, como hoje, fazíamos um enorme barulho em nossas casas e nas dos amigos, enlouquecendo os ouvidos dos nossos pais e os dos vizinhos.

Estúdio para gravar era outro problema. Só existiam a Rozemblit, na Estrada dos Remédios, a Center, na rua da Concórdia, e o estúdio da TV Universitária , na avenida Norte, que de vez em quando era usado para gravar discos.

Naquela época existiam os grupos Nuvem 33, Phetus, Tamarineira Village (que depois que foi gravar no Rio, voltou com o nome de Ave Sangria), o Ala D’Eli, de Robertinho de Recife, Flaviola e o Bando do Sol, Marconi Notaro, Zé Ramalho, Lula Cortes, Aristides Guimarães, Aratanha Azul e outros. Por isso, o grande sonho de todos era ir ao Rio ou São Paulo tentar gravar um disco e ver se descolava uma vaguinha à luz do sol. Muitos conseguiram, como Geraldinho Azevedo, Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Zé Ramalho. Os que ficaram, gravaram aqui mesmo, na Rozemblit.

O LP Satwa, de Lailson e Lula Cortes, que é o tempo todo um tricórdio e uma craviola, é uma verdadeira obra-prima. Tem melodias lindíssimas e é o primeiro disco independente do Brasil: data de janeiro de 1973. Depois veio Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários, gravado metade no Canal 11 e metade na Rozemblit. O disco é muito louco e na época foi proibido pela censura. O som é uma desgraça! Mas o conteúdo é de primeira.

Lula Cortes gravou com Zé Ramalho, em 1975, o famoso Paêbiru, um album duplo no qual eu toco sax soprano em uma faixa chamada simplesmente de "Nas Paredes da Pedra Encantada, os Segredos Talhados por Sumé", regravada pela banda Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Inúteis ( Eita, nome grande da gota!), pelo selo Chaos, da Sony Music.

Vários artistas gravaram no estúdio da Estrada dos Remédios. Seu Zé Rozemblit era um pai para essa gente. Graças ao idealismo dele nós conhecemos, além do frevo, da cantoria e da ciranda (foi o primeiro a produzir discos desses gêneros), os doidos da década de 70. O disco Flaviola e o Bando do Sol é uma jóia rara. Nele, gravei minha primeira música, como compositor. Outra raridade é o terceiro disco de Lula Cortes, "Rosa de Sangue", que a cheia de 76 quase levou rio a baixo. Quem possuir um exemplar desse disco em casa, saiba que tem uma boa grana garantida. conheço quem pague R$ 500,00 por ele.

Foi no final dessa década que eu montei meu primeiro selo, o Matita Discos, que faliu com 3 compactos: Um de "Gil Som", num estilo precursor do de Falcão; um do grupo Flor de Cactus, que tinha Lenine como cantor e compositor; e um de Glaucio Costa, cantor de Garanhuns. Os dois primeiros foram gravados nas salas de aula de música da Universidade Federal. Os microfones e uma mesa de oito canais foram alugados à Maristone. O gravador era um Teac-3340S de 4 canais. Foi a gravação mais artesanal que já fiz na vida! Mas valeu ter o registro da primeira gravação de Lenine.

Naquela época a gente sofria, mas se divertia pra burro. Se tivesse que fazer tudo de novo eu fazia numa boa. O que acontece hoje, é resultado do que fizemos antes. Não sonoramente falando, mas no sentido de luta, trabalho e quebra de tabus.

* Zé da Flauta é músico, produtor e coordenador musical da Fundação de Cultura Cidade do Recife - fonte: site Manguenius

 
 


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